domingo, 20 de março de 2011

Esperar.


Eu espero – como já ninguém espera – pelo tempo que me resta esperar.
Não sou mais, do que já fui de menos. E agora? Uma folha de jornal rasgada em mil pedaços, no chão que pisam mil vezes sobre mil por dia.
São segundos de espera, os mesmos que já não espero. O tempo que já não conto e o que já não espera por mim.
Sete segundos apenas, de uma vida sem nada que se reparta em sete sorrisos e sete abraços que tantas vezes precisei de sentir.
Eu espero – como já ninguém espera – pelo tempo que já não sei esperar.
E a vida corre diante dos meus olhos. Não a consigo agarrar. Tudo parte, tudo passa, tudo muda, como se num piscar de olhos tudo fosse diferente.
Continuo à espera.
Eu espero – como já ninguém espera – pelo tempo que ainda me sobra.
Nas mudanças escondidas e perdidas num mundo de mil cores, de sete segundos de esperança.
Quebrou-se o vidro estilhaçado do relógio. Já não conta, já não toca, já não sei mais se o tempo espera ou se parou. E já não sei quem sou.
Sem cor, sem brilho, sem chama, eu espero em cima dos ponteiros do relógio, caído nesse chão de desprezo e de saudades, e mágoas que ninguém conhece. Sem destino e direcção, sugada pelos barulhos estranhos de medos camuflados de tranquilidade, enevoada pela manhã que se põe fora do reflexo dos meus olhos.
Eu espero – como já ninguém espera – pelo tempo que há-de chegar.
De fugas que não acabam mais, pelo fim da noite que se põem mesmo sendo dia, pelas saudades que são mais quando não as sei esquecer.
Continuo à espera. Sempre à espera. Nessa roda da sorte que são os meus dias. Pelo fim das inseguranças e dos medos sem razão.
Eu espero – como já ninguém espera – pelo tempo de ser feliz.

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