Partida.

Vou partir e em nenhum momento olharei para trás. Já nada há a perder, mas ainda há muito para ganhar.
Não deixei aviso prévio, nem dei pistas sobre uma eventual mudança, uma eventual viagem por um mundo bem distante. Foi bem melhor assim.
Não olhando para trás, deixei ficar igualmente as lágrimas, os medos, mas trouxe na bagagem os sorrisos e todos os sonhos. Cansei-me de esperar por ti. Cansei-me de esperar por algo que hoje sei que não ia ter futuro.
De forma subtil, por meio de indirectas, como lhe querias chamar, despedi-me de ti, mas claro que pensaste naquilo, mas nunca pensaste que seria uma despedida. Pensaste sempre em possíveis brincadeiras, nunca levaste por campos mais sérios. Mas chega de sofrer por ti quando na realidade foste tu que, no fundo, quiseste assim. Já nem ouvias a minha voz e agora também não quero que a ouças. Não quero fazer parte das tuas memórias, dessas imagens que guardas só para ti.
Mas hoje vou partir sem olhar para trás, deixar de lado todas as mágoas, todas as incertezas, todos os medos. Sem olhar para trás construo tudo de novo. Passo a passo. Gesto a gesto. Palavra a palavra.
Agora dou por mim com um sorriso bem rasgado no meu rosto, diante de uma tela, pintando o meu mundo que hoje me orgulho de partilhar com o desconhecido.
Todos os dias é mais um bocado de pintura que se completa, mas ainda há tanta tela em branco, tanto espaço por preencher. Mas há tempo, não tenho a mínima pressa para o ilustrar com mais uma parte da minha vida. Cada pormenor é representado, pois são esses pequenos pormenores que nos fazem crescer e diferenciam a nossa vida das restantes pessoas que circulam à nossa volta.
Talvez mais tarde volte a partir sem sequer me preocupar em olhar para trás, mas por agora é esta a vida que quero, foi isto que escolhi. É aqui e é agora, neste momento que escolhi que sou feliz com as decisões que tomei.
Talvez um dia, bem distante, me volte a vontade de querer partir, sem olhar para trás. Mas agora quero ficar, quero criar raízes.
É bem melhor assim.