domingo, 20 de março de 2011

Lápis Mágico.


Para quê deixar a tristeza pintar, com cores escuras e melancólicas, a minha tela em branco quando posso pegar nas latas de tintas vivas e fortes e deixar as minhas mãos a descobri-las por dentro, lançando, por fim, a tinta presa aos dedos contra as paredes, formando um puzzle de alegrias variadas, de imagens reflectidas em todas as paginas da minha vida. Para quê desfazer-me em mil lágrimas que não conhecem destino quando me posso repartir em mil novos sorrisos. Todos eles com um significado próprio, cheios de mil histórias para contar. Para quê esperar por um novo sonho, um novo desejo, quando, na verdade, o posso sonhar e desejar tão depressa como um sopro e, porventura, cumpri-los mais depressa que um suspiro de saudades.
A vida é muito mais que um jogo de cartas, é mais do que fazer magia com cada carta do barulho. A vida é feita para vivê-la com todos os medos, com todos os erros, com todas as inseguranças, com todas as indecisões que traz na bagagem. É feita para a vivermos com vontade de arriscar a cada instante, por mais que nos apeteça fugir e deixar tudo para trás, por mais que a voz da consciência nos diga que é errado, pois é mais certo lamentarmos que fizemos do que lamentarmos que poderíamos ter feito. Em cada um de nós há um espírito aventureiro, cada um o aproveita em determinadas ocasiões da vida, por vezes de forma inconsciente, pois nem sempre este espírito é visível no nosso reflexo no espelho. Mas seja como for, especialmente se for como queremos que seja, não nos devemos prender a redes de receios que nos prendem os movimentos e o nosso raciocínio mais explorador do mundo, que nos rodeia e nos envolve como uma pequena folha de outono.
Para quê prender-me às memórias do passado quando as posso levar comigo para todo o lado, partilha-las com pessoas de todo o mundo, num presente que tem mais para me dizer do que um passado que já passou. E porquê ficar somente no presente quando posso viajar pelo futuro sem tirar os pés da terra, sem mudar nenhuma linha, nenhuma virgula, sem aumentar os pontos finais. Para quê questionar quando, na verdade, tenho mais para escrever em mim do que algum dia imaginei, por isso mesmo não acabo frases, deixo espaços em branco, avanço e recuo mil vezes por dia para acrescentar algo de novo ao que deixei em aberto, mas avanço dois passos de seguida, para recuperar o que me escapou com tantos «para/avança».
Há um pequeno lápis mágico, feito de mil fios, que contorna, na perfeição, todos os traços do meu rosto e do meu corpo, os mesmos que deixam a descoberto todos os segredos, todas as vontades, todas as gargalhadas que solto bem alto. É um pequeno lápis que tem total liberdade para colorir a minha tela em branco, exposta no meio da minha vida para ser preenchida por mim e por ti que queres fazer parte de mim. É um pequeno lápis mágico onde desenho todas as mentiras que te digo, mas que tu não te importas, na palma da minha mão, guardando todas as confidências nessa tela que tu preenches todas as noites, com saudades e abraços que eu sinto com toda a força, a mesma com que gritas todo o nosso amor. Abraços fortes, bem apertados, que me aconchegam em ti, sem nunca me deixar com a sensação de solidão. Completas-me a cada instante!
Para quê viver na realidade de todos os dias quando posso inventar ilusões como quem faz bolhas de sabão. Sou mais feliz assim, vivendo dentro de constantes ilusões, as mesmas que faço questão de desenhar a varias cores, com as pontas dos meus dedos, limitando os espaços brancos dessa tela que, a cada dia que passa, está cada vez mais preenchida. Ninguém se importa e, depois de tantas ilusões, a nossa realidade passa a ser, toda ela, inventada. Faz mais sentido, é mais gratificante, é muito mais acolhedora.
Para o tempo ou atrasa o relógio. Todos os frascos de tinta saem do armário e, numa imagem descuidada, decidi-me a cobrir a tela, de uma vez por todas, com todas as cores vivas a que tenho direito, contando pequenas histórias que mais ninguém percebe a não ser eu. Coberta de tinta de várias cores, caio redonda no chão, satisfeita por esta liberdade de emoções. O tempo volta a si, adianto o relógio, uma nova história começa e mais um risco de tinta fresca é colocado ao Deus dará no meio de mais um espaço em branco, ou por cima de todos os outros riscos que contrastam com esta nova realidade.
Para quê esperar mais? Vou pegar no lápis mágico, colorir a vida e vou ser feliz!

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